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Incêndio em Hong Kong causadas por falhas estruturais. A construção civil brasileira e sua revolução. Aeroportos construídos em "X"

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Notícia

Incêndio em Hong Kong expõe falhas estruturais e sistêmicas em edifícios de alta densidade

Foto: Tyrone Siu/Reuters

No dia 26 de novembro de 2025, um incêndio de grandes proporções atingiu o complexo residencial Wang Fuk Court, localizado em Tai Po, nos Novos Territórios de Hong Kong. Classificado como “Alarme Nível 5”, o nível máximo de emergência da cidade, o incêndio comprometeu sete das oito torres do conjunto habitacional.

Segundo dados das autoridades, até o momento, mais de 65 pessoas morreram, dezenas estão em estado crítico e cerca de 300 residentes seguem desaparecidos. A tragédia se tornou uma das maiores da história recente de Hong Kong em áreas residenciais e acendeu um debate técnico sobre responsabilidade nas áreas de construção civil, arquitetura e planejamento urbano.

Embora este seja o incêndio com mais óbitos desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Anteriormente, em 1996, outro edifício da cidade, o Garley, teve sua estrutura incendiada, resultando em 41 mortes. Na época, foi amplamente descrito como o pior incêndio em tempos de paz na história de Hong Kong.

O que se sabe até agora

O fogo começou no andaime externo e se espalhou rapidamente pelas fachadas dos edifícios, atingindo os interiores por meio das janelas. O complexo foi construído em 1983, dentro do programa governamental Home Ownership Scheme (HOS), e abriga mais de 4.800 pessoas.

A tipologia dos edifícios é característica das construções residenciais públicas da década de 80, com planta em “cruz” ou “tridente”, voltadas para o aproveitamento máximo do solo e da ventilação natural. Essas mesmas aberturas de ventilação permitiram a entrada do fogo nos apartamentos durante o incêndio.

O sistema de segurança contra incêndio era baseado na compartimentação interna. Mas como a propagação ocorreu do lado de fora, pelas fachadas, o fogo contornou essas barreiras e se alastrou verticalmente, impulsionado pelos materiais instalados nas obras de renovação em andamento.

Três elementos materiais foram determinantes

A análise realizada por especialistas locais aponta para três fatores materiais principais que contribuíram para a propagação rápida e a alta letalidade do incêndio:

  1. Andaimes de bambu: ainda em uso legal devido a cláusulas contratuais, os andaimes funcionaram como uma estrutura combustível contínua cobrindo as fachadas dos prédios. O calor intenso fez com que as amarras plásticas derretessem, provocando colapsos que bloquearam saídas e dificultaram o acesso dos bombeiros.

  2. Redes de proteção de nylon ou polietileno: usadas para conter detritos durante obras, essas redes queimaram a uma velocidade incompatível com os padrões exigidos por norma. O comportamento dos materiais sugere o uso de redes não certificadas como retardantes de chama.

  3. Isopor colado às janelas (poliestireno expandido): aplicado como proteção temporária durante a obra, esse material também derreteu com o calor do incêndio, facilitando a entrada das chamas nos apartamentos. O poliestireno é altamente inflamável e, ao queimar, libera gases tóxicos.

Esses três componentes criaram uma linha de propagação vertical contínua (do térreo ao topo dos edifícios) eliminando qualquer possibilidade de contenção convencional

Foto: Vernon Yuen/Nexpher/ZUMA/dpa/picture alliance

Responsabilidade da construtora

A empresa responsável pela obra de renovação, Prestige Construction & Engineering Co., é apontada como agente central na tragédia. Ela já havia sido multada anteriormente por falhas de segurança e, mesmo assim, conseguiu manter um contrato de HK$ 330 milhões para renovar o Wang Fuk Court.

Relatórios do Departamento do Trabalho indicam que a empresa recebeu advertências formais sobre riscos de incêndio poucos dias antes do incidente, mas não implementou as correções necessárias. Três diretores da empresa foram presos sob a acusação de homicídio culposo (quando não há intenção de matar).

Falhas regulatórias agravaram o risco

Embora o governo de Hong Kong tenha anunciado, em março de 2025, a substituição progressiva dos andaimes de bambu por estruturas metálicas, contratos anteriores ficaram protegidos por cláusulas de transcrição. O projeto do Wang Fuk Court se enquadrava nessa exceção.

Além disso, a fiscalização falhou em interromper o uso de materiais inadequados mesmo após vistorias e notificações. As medidas punitivas disponíveis (como multas e advertências) mostraram-se insuficientes para prevenir o risco real em campo.

Urbanismo e evacuação em áreas densas

A disposição das torres no complexo criou corredores de vento que aceleraram a propagação do fogo de um bloco ao outro. O acesso ao local também foi prejudicado pela densidade urbana e ruas estreitas, o que dificultou o posicionamento de equipamentos de resgate.

As escadas internas, única rota de fuga, foram rapidamente tomadas pela fumaça. Muitos moradores não conseguiram evacuar a tempo, especialmente idosos e pessoas com mobilidade reduzida, que compõem parte significativa da população do complexo.

Por que essa notícia interessa ao setor de construção sustentável?

O caso expõe a fragilidade dos sistemas de segurança em edifícios antigos e mostra como decisões de projeto, especificações de materiais e fiscalização estão diretamente ligadas à integridade das construções.

Mesmo em contextos culturais ou econômicos em que materiais tradicionais são valorizados, como o bambu, é necessário avaliar seu desempenho real diante das exigências atuais de segurança.

Da mesma forma, o uso de soluções de baixo custo (como isopor e redes não certificadas) pode comprometer vidas quando não há critérios técnicos rigorosos.

Conclusão

O incêndio no Wang Fuk Court não foi causado por um único erro, mas por uma sequência de falhas técnicas, regulatórias e operacionais. A combinação de materiais inflamáveis, fiscalização deficiente e tipologia arquitetônica vulnerável resultou em uma tragédia de grandes proporções.

A análise desse caso reforça a importância de revisar práticas de retrofit em edifícios antigos e adotar normas atualizadas que priorizem a segurança e a resiliência urbana. O desafio é garantir que políticas de modernização urbana e sustentabilidade também incluam critérios objetivos de prevenção a desastres.

Vídeo

Eficiência energética agora é lei! A construção civil brasileira vai mudar

O setor da construção civil no Brasil passará por mudanças significativas nos próximos meses. Duas novas regulamentações vão impactar diretamente a forma como edifícios residenciais, comerciais e públicos são projetados, construídos e financiados.

A primeira medida é a obrigatoriedade da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE). A partir de agora, nenhum novo projeto poderá ser licenciado sem comprovar um desempenho mínimo de eficiência energética. Isso inclui critérios técnicos como envoltória (paredes, coberturas e fachadas), iluminação e climatização. Ou seja, a eficiência deixa de ser opcional e passa a ser um requisito legal para obter o alvará de construção.

A segunda mudança é a criação da Taxonomia Sustentável Brasileira, um sistema que define quais projetos podem ser considerados sustentáveis no país. Ela servirá como referência para bancos, fundos e investidores, orientando o financiamento de obras que gerem impacto ambiental e social positivo. No setor de construção, isso inclui novas edificações, retrofit e instalação de soluções passivas como brises, isolamento térmico e estratégias bioclimáticas.

Com as novas regras, a lógica do setor muda. Os projetos deverão entregar desempenho comprovado. E o financiamento será direcionado a quem comprovar impacto positivo com base em critérios objetivos.

Quer se aprofundar no tema?

Se você trabalha com construção civil ou está se preparando para entrar no setor, é importante entender como essas mudanças vão afetar seus projetos!

Assista ao vídeo completo no nosso canal do Youtube para conhecer os detalhes técnicos, os prazos e o que fazer para se adaptar a essa nova realidade da construção no Brasil!

Curiosidade

Por que tantos aeroportos modernos têm formato de “X”?

Se você observar com atenção os aeroportos mais recentes e de grande porte como Pequim-Daxing, Abu Dhabi (Terminal A) ou Chengdu Tianfu, vai perceber uma geometria recorrente: plantas em “X”, em estrela ou com ramificações que partem de um centro comum.

O motivo dessa escolha não é estético, e sim puramente técnico: trata-se de uma solução geométrica para um problema logístico.

O desafio: mover muita gente, com o mínimo de esforço

Em aeroportos que processam mais de 40 milhões de passageiros por ano, a circulação de pessoas e aeronaves precisa ser altamente eficiente. Em modelos lineares, quanto maior o terminal, maior a distância de caminhada, e maior a necessidade de sistemas como trens subterrâneos ou ônibus internos. Esses sistemas são caros de instalar, consumem energia continuamente e precisam de manutenção constante.

A planta em X ou radial resolve isso ao concentrar o núcleo de serviços no centro (check-in, segurança, despacho de bagagens) e distribuir os portões em diferentes direções. Essa geometria reduz a distância máxima de deslocamento, melhora o uso do espaço e aumenta a eficiência operacional sem depender tanto de soluções mecânicas.

Exemplo: No aeroporto de Pequim-Daxing, com 700 mil m² de área construída, a distância entre o centro e o portão mais distante é de apenas 600 metros. Isso permite que os passageiros caminhem até o embarque em menos de 8 minutos, sem esteiras ou trens.

Por que o “X” funciona tão bem?

A geometria em “X” ou estrela atende a três objetivos centrais em projetos aeroportuários de grande escala:

  1. Minimiza distâncias internas

    Ao distribuir os píeres radialmente, a caminhada entre check-in e portão nunca precisa ultrapassar 600-800 metros, mesmo em terminais com centenas de voos por dia.

  2. Maximiza o contato com aeronaves

    Mais braços = mais fachada ativa para o estacionamento de aviões diretamente no terminal, reduzindo o uso de posições remotas e ônibus de pista.

  3. Compacta o volume construído

    Isso resulta em menos áreas de fachada exposta ao ambiente externo, o que melhora o desempenho térmico e reduz a carga sobre sistemas de ar-condicionado e aquecimento.

Esse último ponto é crucial em termos de eficiência energética. Um edifício compacto troca menos calor com o ambiente, exigindo menos energia para manter a temperatura interna. Em climas extremos (como Abu Dhabi ou Mumbai), isso se traduz em economia real.

E a sustentabilidade?

Quando falamos em construções sustentáveis, é comum pensar em tecnologias como painéis solares ou sistemas de reuso. Mas, em projetos dessa escala, a sustentabilidade começa pela forma.

Um bom exemplo disso é o fator de forma, a relação entre a áreas externa (superfície) e o volume interno. Estruturas mais compactas têm um fator de forma menor, o que significa menos troca térmica com o exterior e maior eficiência energética.

Em números simples:

Dois terminais com a mesma área útil podem ter desempenhos térmicos completamente diferentes, só porque um é linear e o outro é compacto. A geometria importa!

Além disso, plantas radiais podem eliminar completamente a necessidade de trens subterrâneos, como no caso do novo projeto de renovação do Aeroporto de Pittsburgh, que removeu o APM (sistema de trem interno) ao realocar os volumes de embarque mais próximos do terminal terrestre. Isso reduziu o consumo de energia e os pontos de falha mecânica.

E quanto aos materiais?

Existe um custo de carbono na construção dessas megaestruturas. Modelos com grandes vãos, como o terminal de Abu Dhabi (com arcos de 180 metros) ou o de Daxing (com cobertura em vão livre), exigem grandes volumes de aço e concreto, materiais com alto carbono incorporado.

A compensação vem da longevidade e da eficiência operacional. Ou seja, quanto menos energia o edifício consome ao longo dos anos, maior a chance de equilibrar o impacto ambiental da construção inicial.

É por isso que soluções como a madeira engenheirada (já usadas em aeroportos menores como o de Portland) ainda não são viáveis para esses projetos em larga escala.

Conclusão: o “X” como solução, não como símbolo

O uso crescente da forma radial em aeroportos não é uma questão de estética futurista. É uma resposta prática a restrições espaciais, operacionais e energéticas.

  • Reduz deslocamentos humanos

  • Aumenta o uso eficiente do solo e da fachada

  • Melhora o desempenho térmico com menos tecnologia ativa

Em outras palavras, a forma em “X” permite que o edifício faça mai com menos - menos distância, menos energia, menos transporte interno.

Para quem projeta edifícios complexos, aeroportos radiais oferecem um lição direta: a geometria do espaço pode ser uma ferramenta de sustentabilidade, desde que usada com lógica física e construtiva.  

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