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O oásis de Gabès em apuros, Oferta UGREEN, Transição energética é realmente o futuro?

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Notícia

Gabès: Quando a indústria apaga um oásis

Créditos: Expedia

Há lugares no mundo que nascem com vocação para a harmonia. Gabès, na costa sudeste da Tunísia, era um deles.

Um raro encontro entre o mar, o deserto e um oásis costal. Um ecossistema único, que sustentava agricultura, pesca e turismo. Hoje, porém, essa cidade se tornou o símbolo de um colapso ambiental e humano causado por décadas de descaso e más decisões políticas.

Oásis em colapso: o que aconteceu?

Desde os anos 70, Gabès abriga um gigantesco Complexo Químico de Fosfato (GTC). Essa indústria é vital para a economia tunisiana, mas os resíduos gerados (especialmente o fosfogesso) vêm envenenando lentamente tudo ao redor: o ar, a água, o solo … e as pessoas.

A tríade da contaminação:

  • Fosfogesso (PG): resíduo ácido e possivelmente radioativo, descartado diretamente no solo e no mar;

  • Dióxido de Enxofre (SO₂) e Amônia (NH₃): gases tóxicos que comprometem o ar que se respira;

  • Cádmio (Cd): metal pesado altamente tóxico, sendo acumulado na cadeia alimentar marinha.

A combinação dessas substâncias criou um ambiente onde a vida adoece lentamente, todos os dias.

Do meio ambiente à saúde pública: um círculo vicioso

A crise ambiental em Gabès ultrapassou os limites da ecologia e se instalou na saúde da população. Nos arredores do complexo industrial, os relatos são chocantes:

  • Mais de 300 casos de asfixia aguda por inalação de gases industriais;

  • Aumento significativo de doenças respiratórias crônicas;

  • Mais de 1.000 casos de hepatite, ligados à contaminação hídrica;

  • Registros crescentes de câncer, malformação e doenças ligadas à exposição prolongada a metais pesados.

O ar intoxica. A água adoece. O solo morre. E com ele, morrem as alternativas econômicas sustentáveis que poderiam tirar a cidade dessa dependência tóxica.

O mar também sofre: colapso do ecossistema marinho

O Golfo de Gabès, antes abundante em biodiversidade marinha, hoje enfrenta eutrofização, turbidez extrema e colapso da base da cadeia alimentar.

A pesca foi comprometida. A economia azul deixou de ser uma opção. As espécies marinhas desaparecem silenciosamente, num cenário que parece irreversível sem ação urgente.

Política e retrocessos: uma escolha perigosa

Em 2017, uma decisão oficial ordenava o desmatamento das unidades poluidoras. Era o primeiro passo rumo à justiça ambiental. No entanto, essa promessa foi abandonada. Pior: o fosfogesso foi reclassificado como “matéria-prima” e não como “resíduo perigoso”.

Essa mudança desregulamenta a gestão dos resíduos, permitindo à indústria continuar suas práticas sem arcar com os custos ambientais. Movimentos locais como o “Stop Pollution” denunciam a medida como um retrocesso deliberado … e com razão.

Por que isso importa para todos nós?

Porque Gabès é um microcosmo do que pode acontecer em qualquer parte do planeta onde o lucro é colocado acima da vida. É um alerta claro sobre os riscos de modelos econômicos baseados na extração intensiva e na negligência ambiental.

A contaminação de um aquífero afeta gerações. A destruição de um ecossistema marinho desequilibra cadeias alimentares inteiras. E a exposição contínua da população a gases tóxicos e metais pesados é uma violação dos direitos humanos mais básicos.

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Opinião

Transição energética ou repetição colonial?

Créditos: Freepik

A transição energética tem sido apresentada como o caminho inevitável para um futuro mais limpo e sustentável. No entanto, à medida que essa mudança avança, surge uma questão crucial: quem está arcando com os custos dessa transformação global? 

Enquanto os combustíveis fósseis estão sendo substituídos por fontes renováveis, os impactos ambientais e sociais associados à extração dos minerais necessários para essa nova economia estão concentrados, em grande parte, nos países do Sul Global.

Painéis solares, baterias de carros elétricos e turbinas eólicas dependem de elementos como lítio, cobalto, níquel e cobre. Esses recursos são extraídos principalmente da América Latina, da África e da Ásia, regiões que, historicamente, já lidam com desafios relacionados à exploração ambiental e desigualdades estruturais.

Essa transição, apresentada como verde e limpa, está longe de ser neutra. Ela só muda o endereço da degradação.

O peso da “modernização suja”

A chamada “modernização suja” é um modelo em que o desenvolvimento de uns é sustentado pela exploração de outros. Países do Norte Global externalizam os custos ambientais e sociais para regiões com menor poder institucional. Isso não é novidade, mas vem ganhando uma nova roupagem: agora, em nome do “verde”.

A extração de lítio no Salar de Atacama (deserto de sal no Chile), por exemplo, consome água em volumes absurdos, cerca de 50 vezes o consumo doméstico das comunidades locais. Isso num dos lugares mais áridos do planeta. O solo afunda, as lagoas desaparecem, e os modos de vida tradicionais são ameaçados. Não há nada de sustentável nisso.

Enquanto isso, os lucros da cadeia produtiva ficam concentrados onde a tecnologia é desenvolvida e os produtos finais são comercializados: no Norte.

Dependência e invisibilidade

É fácil defender a sustentabilidade quando não se veem as minas abertas, os trabalhadores adoecendo e as comunidades perdendo suas terras.

O que está acontecendo é uma troca de dependência: saem os combustíveis fósseis, entram os minerais críticos. A lógica de exploração continua a mesma, e pior: agora ela se esconde atrás do discurso do progresso limpo.

E na construção civil?

Aqui é onde a conversa fica ainda mais próxima da nossa prática.

Se os materiais que usamos vêm de cadeias produtivas marcadas por violações socioambientais, não estamos contribuindo de forma sustentável, estamos só mudando a embalagem.

Então surge o questionamento: você sabe de onde vêm os minerais usados nos componentes das tecnologias “verdes” que aplica nos seus projetos?

O que precisamos exigir

Não é impossível fazer diferente. É uma questão de repensar o modelo, implementando:

  • Rastreabilidade real de materiais: saber de onde vem e como foi produzido.

  • Transparência nas certificações: não aceitar selos verdes que escondem práticas nocivas.

  • Investimento em economia circular e mineração urbana: reduzir a extração primária é possível e necessário.

  • Participação das comunidades locais: projetos de mineração ou energia precisam ser discutidos com quem vive nas áreas afetadas.

Assuntos como esses já foram abordados em outras newsletters, caso queira se aprofundar, leia nossas outras edições em nosso blog!

Recado final

A transição energética é, sim, necessária. Mas ela não pode repetir os erros do passado, disfarçados de futuro. Não adianta falarmos de sustentabilidade se ela continua sendo construída sobre as mesmas estruturas de exploração, apenas com novas tecnologias.

Quando o Norte lucra com a “descarbonização”, mas o Sul segue convivendo com escassez de água, violações de direitos e degradação ambiental, não estamos diante de uma revolução verde. Estamos diante de uma transição colonial.

Se queremos uma transformação real (e justa) precisamos assumir que a sustentabilidade só existe quando todos os territórios têm voz, quando os impactos são compartilhados, e quando as soluções não produzem desigualdades históricas.

No fim das contas, construir de forma sustentável é também recusar a lógica da externalização. É escolher materiais com consciência, projetos com propósito e decisões com responsabilidade coletiva.

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