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Países do Sudeste Asiático sofrem inundações devido a falhas de planejamento. Os micro-apartamentos estão dominando o mundo! A micro revolução verde de Mariangela Hungria
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Notícia
Inundações no Sudeste Asiático são resultado de falhas graves no planejamento e arquitetura urbana

Foto: Stringer/Reuters
Entre os dias 18 e 24 de novembro, chuvas extremas atingiram a Tailândia, Indonésia, Malásia e Sri Lanka, resultando, até o momento, em mais de 300 mortes confirmadas e milhares de deslocamentos. A região foi atingida por dois sistemas meteorológicos (a tempestade tropical Senyar e o ciclone Ditwah) que se somaram à intensificação das monções. Em Hat Yai (Tailândia), o volume de chuva em 24h foi de 335 mm, o maior em três séculos.
A escala da destruição, no entanto, não se deve apenas à intensidade da chuva. Um levantamento técnico revelou como decisões urbanas, arquitetônicas e de infraestrutura agravaram diretamente os impactos da tragédia.
O papel da construção civil e do urbanismo na amplificação do desastre
Uma análise do ambiente construído nas áreas atingidas identificou falhas sistêmicas que transformaram um evento climático extremo em um desastre urbano de grandes proporções:
Sistemas de drenagem subdimensionados ou obstruídos: Em Hat Yai, o canal Phuminat Damri (Ror 1), considerado eixo de controle de cheias, estava assoreado e perdeu capacidade de vazão. Isso contribuiu para o alagamento de áreas comerciais e residenciais centrais.
Construções em áreas de risco topográfico e hidrológico: Em Sri Lanka, 30% a 40% das mortes ocorreram em áreas mapeadas como “Zonas Vermelhas”, encostas instáveis com histórico de deslizamentos. A presença de edificações ilegais agravou a instabilidade do solo.
Impermeabilização do solo urbano: Cidades como Medan (Indonésia) passaram por urbanização intensa nas últimas décadas, com perda quase total de áreas de infiltração. O resultado foi o aumento do escoamento superficial e a falência do sistema de drenagem.
Perda de tipologias arquitetônicas adaptadas ao clima: Em diversas áreas afetadas, as habitações tradicionais sobre pilotis foram substituídas por casas térreas em laje, incompatíveis com zonas alagáveis. Isso levou a perdas materiais totais e riscos diretos à integridade estrutural.
Situações críticas por país
País | Região Crítica | Falha identificada |
|---|---|---|
Tailândia | Hat Yai | Assoreamento de canais e ocupação de margens dos rios por edificações irregulares |
Indonésia | Meda e Padang | Subsidência do solo, impermeabilização e colapso de pontes sob fluxo com detritos |
Sri Lanka | Badulla, Nuwara Eliya | Construções em encostas instáveis e cortes de estrada sem contenção geotécnica |
Malásia | Rantau Panjang (Kelantan) | Ausência de coordenação hidrológica transfronteiriça com a Tailândia |
Materiais e técnicas também foram determinantes
Além do traçado urbano, os próprios sistemas construtivos contribuíram para a gravidade dos impactos:
O uso extensivo de concreto armado sobre solos instáveis acelerou a subsidência urbana em Medan, comprometendo fundações em áreas alagadas.
Falta de tecnologias de resiliência (como pavimentos permeáveis ou drenagem profunda) impediu o escoamento adequado em áreas críticas.
Materiais pouco resistentes à água, como drywall e painéis de aglomerado, foram amplamente utilizados mesmo em regiões sujeitas a enchentes regulares, resultando em perdas totais após a submersão.
A dimensão regional e geopolítica do problema
O caso do Rio Golok, na fronteira entre Tailândia e Malásia, evidenciou os efeitos negativos da infraestrutura unidirecional. O muro construído pela Tailândia ao longo de sua margem do rio impediu a dissipação natural das águas, redirecionando o fluxo com maior intensidade para o lado malaio, que não possuía proteção equivalente. Isso causou a inundação da cidade de Rantau Panjang. O episódio reabriu discussões sobre a necessidade de governança hidrológica binacional.
Considerações finais
A investigação conduzida por especialistas locais e internacionais aponta que a maior parte das mortes e destruição foi causada não apenas pelo evento climático em si, mas por escolhas técnicas e políticas acumuladas nas últimas décadas. Isso inclui:
Negligência na manutenção de canais e drenagem;
Urbanização desorganizada e ocupação de áreas de risco;
Rejeição de soluções arquitetônicas adaptadas às condições climáticas locais;
Ausência de integração entre municípios, estados e países no planejamento territorial e hidrológico.
As cidades afetadas não falharam apenas por falta de investimento, mas por uma abordagem de projeto que desconsidera a realidade hidrológica da região.
Vídeo
Micro-apartamentos: quando o lar encolhe e o lucro cresce
Nas grandes cidades, um novo tipo de moradia vem se tornando cada vez mais comum: os micro-apartamentos. Unidades entre 18 e 35 m², muitas vezes localizadas em áreas nobres, cercadas por marketing que promete praticidade, flexibilidade e uma vida urbana “descomplicada”. Mas o que está por trás desse fenômeno?
Enquanto os edifícios crescem em altura e a tecnologia permite construções cada vez mais avançadas, o espaço privado encolhe. A moradia, um bem essencial à vida humana, vem sendo reduzida ao mínimo necessário. E, mais do que uma escolha de estilo de vida, isso revela uma mudança estrutural: o lar passou a ser tratado como mercadoria, e não como direito.
A lógica é clara: quanto menor a unidade, maior o lucro por metro quadrado. Com terrenos caros e custos crescentes de construção, as incorporadoras encontraram nos apartamentos compactos uma equação rentável, muitas vezes apoiada por discursos sobre mobilidade urbana, minimalismo e sustentabilidade.
Mas até que ponto essa narrativa se sustenta?
Essa tendência levanta questões fundamentais sobre a qualidade de vida, a saúde mental, a equidade urbana e o verdadeiro papel da arquitetura. A densidade urbana, quando usada para ampliar o acesso à moradia digna, pode ser aliada à sustentabilidade.
Porém, quando guiada apenas pelo interesse financeiro, transforma o morar em uma experiência precária, disfarçada por soluções estéticas e áreas comuns compartilhadas.
Quer se aprofundar no tema?
Assista ao vídeo completo no nosso canal do Youtube para entender como o apartamento mínimo chegou ao Brasil e por que ele é, na verdade, parte de um processo global de financeirização da moradia!
Curiosidade
Tecnologias biológicas na agricultura: lições para a sustentabilidade na construção

Foto: IPAM Amazônia
O trabalho da Dra. Mariangela Hungria e sua equipe na Embrapa apresenta resultados concretos na substituição de insumos sintéticos por soluções biológicas no campo. Esse modelo pode oferecer direções úteis para outras áreas, como a construção civil sustentável.
Biotecnologia aplicada à produção: redução de insumos e aumento de eficiência
A agricultura brasileira reduziu drasticamente o uso de fertilizantes nitrogenados na cultura da soja. A substituição foi possível por meio da fixação biológica de nitrogênio (FBN), uma técnica baseada no uso de bactérias que realizam esse processo naturalmente.
Hoje, aproximadamente 85% da área cultivada de soja no Brasil (cerca de 40 milhões de hectares) utiliza essa tecnologia. O impacto é mensurável:
Economia direta: cerca de US$ 25 bilhões/ano deixaram de ser gastos com fertilizantes nitrogenados.
Redução de emissões: mais de 230 milhões de toneladas de CO₂ equivalente/ano foram evitadas.
Esse tipo de solução foi resultado de uma estratégia nacional de pesquisa que começou nos anos 1970 e ganhou escala com o trabalho da Dra. Mariangela Hungria nas últimas quatro décadas. Ela liderou a seleção de bactérias adaptadas aos solos tropicais, onde as soluções genéticas importadas de países temperados mostraram-se ineficientes.
Coinoculação e bioinsumos: combinação de soluções para maior produtividade e resiliência
Além da FNB, a coinoculação (técnica que aplica duas bactérias com funções distintas) permite ganhos adicionais:
Incremento de produtividade: aumento de 8% a 16% na soja em relação à inoculação simples.
Maior tolerância à seca: plantas com maior massa radicular acessam camadas mais profundas do solo, mantendo produtividade em anos com veranicos.
Essa técnica foi estendida a gramíneas como milho e trigo, com redução parcial no uso de nitrogênio (até 25%), sem perda de produtividade.
O mercado de bioinsumos, impulsionado por esses resultados, cresce de 15% a 20% ao ano no Brasil, com destaque pra soluções desenvolvidas em parceria com empresas privadas e validadas pela Embrapa.
Solubilização de fósforo: aproveitamento de recursos já presentes no solo
Outro gargalo agrícola é o fósforo. A maioria dos solos tropicais brasileiros acumula fósforo fixado, ou seja, está presente, mas indisponível para as plantas. O produto BiomaPhos, desenvolvido pela equipe de Hungria, soluciona parte desse problema.
Esse bioinsumo contém bactérias que:
Solubilizam fósforo inorgânico preso a óxidos metálicos;
Mineralizam fósforo orgânico da matéria orgânica.
Com isso, é possível reduzir a dependência de fertilizantes fosfatados importados e melhorar a eficiência do uso de recursos já aplicados.
Relação com sustentabilidade urbana e construção
A adoção de soluções biológicas na agricultura revela três pontos aplicáveis à construção civil:
Redução da dependência de insumos industriais: a pesquisa biológica substitui produtos de alto custo e impacto ambiental por processos naturais. Isso indica que é possível revisar a lógica de insumos também na construção, especialmente em materiais como cimento e aço.
Eficiência adaptada ao clima local: o sucesso da tecnologia só foi possível com foco nas condições específicas dos trópicos. Projetos de arquitetura e engenharia devem considerar com mais rigor as condições edafoclimáticas locais, em vez de replicar modelos de outras regiões.
Tecnologias regenerativas: o uso de bioinsumos melhora o solo ao longo do tempo. Na construção, isso pode ser traduzido como infraestrutura que melhora a qualidade ambiental urbana, por exemplo, sistemas que reduzem ilhas de calor, promovem infiltração de água e aumentam a permeabilidade urbana.
Considerações finais
As soluções desenvolvidas pela Embrapa mostram que é viável combinar escala produtiva, viabilidade econômica e redução de impactos ambientais. Esse modelo pode ser interpretado como um paralelo útil para quem atua com sustentabilidade na construção civil.
Há espaço para inovações que sejam escaláveis, economicamente viáveis e adaptadas às condições brasileiras. A pesquisa agroambiental pode ser um ponto de partida para desenvolver novas formas de construir com menos impacto.
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