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Restauração do Deserto do Saara, AI e Mudanças Climáticas, e São Arranha-Céus Verdes São Péssima Ideia?
Novidades quentíssimas para você!
Green Building Day
O Green Building Day chega ao Cidade Matarazzo – Garanta seu ingresso agora!
A última edição do Green Building Day na Itália foi fenomenal, e agora é a vez do Cidade Matarazzo, um dos maiores complexos de luxo de São Paulo, receber esse evento exclusivo!
O Cidade Matarazzo é um megacomplexo de luxo localizado no coração de São Paulo, no bairro da Bela Vista, a apenas 200 metros da Avenida Paulista. O projeto foi idealizado pelo empresário francês Alexandre Allard, com o objetivo de transformar o antigo Hospital Matarazzo e outros edifícios históricos, como a Maternidade Condessa Filomena Matarazzo e a Capela Santa Luzia, em um espaço vibrante que combina preservação cultural, arquitetura de ponta e sustentabilidade.
A área de mais de 30 mil metros quadrados inclui três hectares de Mata Atlântica, integrando natureza e urbanidade. O complexo não apenas recupera edificações icônicas, mas também oferece experiências contemporâneas com um foco na sofisticação e inovação sustentável.
Com um investimento estimado em R$ 2 bilhões, o Cidade Matarazzo se destaca pela diversidade de usos. A Maternidade foi transformada no Rosewood São Paulo, o primeiro hotel-palácio da América Latina, projetado por Jean Nouvel e com interiores assinados por Philippe Starck.
A torre Mata Atlântica, parte do complexo, é um verdadeiro jardim vertical com mais de 10 mil árvores nativas, consolidando o projeto como a maior floresta urbana do mundo. Além do hotel, o espaço abriga um edifício corporativo projetado por Rudy Ricciotti, um boulevard de marcas de luxo, 34 restaurantes e a Casa da Criatividade, que receberá exposições culturais ao longo do ano.
No evento, você terá acesso a:
Estratégias práticas para ESG e economia circular na construção civil
Workshops aplicados e matchmaking com tomadores de decisão
Painéis com líderes de mercado sobre inovação sustentável
Garanta seu ingresso agora e prepare-se para uma experiência transformadora:
Dúvidas, patrocínio ou desconto para grupos? Fale conosco respondendo este email.
Desertificação
Soluções para a Desertificação – O Caso do Sahel e do Deserto do Saara
O Deserto do Saara é o maior deserto quente do mundo, cobrindo grande parte do norte da África, com uma extensão aproximada de 4.800 km. Seu avanço é uma preocupação crescente, especialmente na região do Sahel, que faz a transição entre as áreas áridas do norte e as savanas úmidas do sul. Desde a década de 1950, a precipitação no Sahel diminuiu 30%, e o Saara já cresceu cerca de 10% em relação ao seu tamanho em 1920. A desertificação avança 7.600 km² por ano, agravando a insegurança alimentar, o desemprego e os conflitos na região, forçando milhares de pessoas a migrarem para áreas urbanas e outros países.
Os Desafios da Desertificação e Seus Efeitos
A desertificação resulta na perda de solo fértil, aumentando a degradação ambiental e afetando diretamente a agricultura. Essa situação gera fome, empurra comunidades para a pobreza e reduz oportunidades de trabalho nas zonas rurais. Além disso, a migração forçada por falta de recursos e a competição por água e terra alimentam conflitos sociais e políticos. A crise climática intensifica esses problemas, aumentando a frequência de secas e tempestades, tornando o ambiente cada vez mais inóspito.
Mapa da intervenção. Fonte: Boas Novas MG.
Soluções Inovadoras para a Restauração Ambiental
Regeneração Natural Gerenciada por Agricultores (FMNR)
Uma das técnicas mais eficazes para restaurar ecossistemas degradados é a Regeneração Natural Gerenciada (FMNR), desenvolvida no Níger por Tony Rinaudo. A FMNR aproveita tocos e raízes de árvores existentes, permitindo a regeneração de vegetação nativa. Com baixo custo – cerca de US$ 20 por hectare – a técnica promove a recuperação do solo, aumenta a retenção de água e cria um microclima mais favorável para a agricultura. A repetição periódica do processo garante o crescimento saudável das plantas, melhorando a fertilidade e a qualidade de vida nas comunidades locais.
Captação de Água com Estruturas Semicirculares (Demi-lunes)
Outra estratégia eficaz é o uso das chamadas demi-lunes, estruturas em formato de meia-lua escavadas para capturar a água da chuva. Escavadas ao longo das curvas de nível do terreno, essas estruturas ajudam a reduzir a erosão, aumentam a infiltração de água e favorecem o crescimento de culturas e árvores nativas. Em projetos no Senegal, a construção de milhares de demi-lunes melhorou a umidade do solo e elevou significativamente a produção agrícola, especialmente de culturas como sorgo e milheto.
Grande Muralha Verde: Uma Barreira contra a Desertificação
A Grande Muralha Verde é uma iniciativa ambiciosa que busca criar uma barreira de árvores de 8.000 km entre o Senegal e Djibouti, para conter a expansão do Saara. Esse projeto envolve 11 países africanos e combina reflorestamento com práticas agrícolas sustentáveis, promovendo a segurança alimentar e o desenvolvimento econômico local. No entanto, desafios climáticos, como baixa precipitação, e a necessidade de engajamento comunitário e financiamento contínuo são obstáculos para o sucesso do projeto.
Estudos de Caso: Experiências Bem-Sucedidas
Níger: Restauração e Impacto Social
O Níger se destaca na adoção da FMNR, restaurando mais de 5 milhões de hectares de terra e regenerando 200 milhões de árvores desde os anos 1980. Essa iniciativa beneficiou diretamente 2,5 milhões de pessoas, aumentando em até 24% a renda familiar média. A adoção em massa da técnica pelos agricultores e o apoio governamental, por meio de decretos que incentivam a regeneração, foram fundamentais para o sucesso do projeto. Além da segurança alimentar, a restauração contribuiu para mitigar as mudanças climáticas ao sequestrar carbono e reduzir a necessidade de migração rural-urbana.
Melhorias em Níger. Fonte: UNEP
Senegal: Aumentando a Segurança Alimentar e Fortalecendo Comunidades
No Senegal, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) transformou áreas áridas em terras agrícolas produtivas por meio da construção de demi-lunes e do envolvimento da comunidade local. Em um projeto específico, 7.500 demi-lunes foram construídas em uma área de 30 hectares, mobilizando 150 pessoas e aumentando a recarga do lençol freático em até 15%. Além disso, a produção agrícola foi reforçada com o plantio de culturas locais e árvores frutíferas, fortalecendo a coesão social e reduzindo a migração de jovens para as cidades.
Dados Técnicos e Benefícios Ambientais
A restauração de áreas degradadas tem impacto significativo no clima e na economia. No Níger, a regeneração aumentou a densidade arbórea em 10 vezes, melhorando a biodiversidade e gerando recursos avaliados em mais de US$ 260 milhões. Além disso, o potencial de sequestro de carbono pelas florestas restauradas é estimado em até 2 bilhões de toneladas de CO₂ por ano, contribuindo para os esforços globais de mitigação das mudanças climáticas. A melhoria na saúde do solo, promovida pela queda de folhas e matéria orgânica, aumenta a capacidade de retenção de água e recarrega aquíferos subterrâneos, fortalecendo a resiliência das comunidades contra secas prolongadas.
Desafios e Sustentabilidade das Soluções
O engajamento comunitário é essencial para o sucesso das iniciativas de restauração. É preciso superar o ceticismo inicial e garantir que as comunidades compreendam os benefícios práticos das técnicas. Além disso, o uso de práticas sustentáveis e de baixo custo, como a FMNR e as demi-lunes, deve ser adaptado ao contexto local e apoiado por políticas públicas e educação contínua. A proteção ambiental também é crucial, com monitoramento das áreas restauradas e prevenção de atividades que possam comprometer os resultados alcançados, como o pastoreio excessivo.
Mudanças Climáticas e AIs
Inteligência Artificial e Mudanças Climáticas – Oportunidades e Desafios
A inteligência artificial (IA) é uma das tecnologias mais transformadoras da era moderna, mas o seu crescimento acelerado traz preocupações ambientais relevantes. Embora a IA tenha potencial para ajudar no combate às mudanças climáticas, seu impacto ambiental também não pode ser ignorado. Nesta edição, exploramos essa dualidade: como a IA contribui para o aumento de emissões e consumo de recursos e, ao mesmo tempo, oferece soluções para uma gestão ambiental mais eficiente.
O Crescimento do Consumo Energético com a IA
Com a expansão da IA, os data centers – que são a base dessa tecnologia – estão em crescimento exponencial. Atualmente, existem mais de 8.000 data centers no mundo, sendo mais de 5.000 apenas nos Estados Unidos. Esses centros estão experimentando uma taxa de crescimento anual próxima de 10%, impulsionada pela demanda crescente por serviços baseados em IA. Projeções indicam que, até 2030, o consumo energético global dos data centers pode aumentar em até 160%, atingindo níveis comparáveis ao consumo de energia de países inteiros, como a Itália.
Previsão do consumo energético em data centers. Fonte: Goldman Sachs
Além disso, o desenvolvimento e o treinamento de modelos avançados de IA dependem de chips de alto desempenho, como os fabricados pela Nvidia, que demandam grandes quantidades de energia. Esses chips, fundamentais para o funcionamento das IAs modernas, consomem tanta energia que podem ser comparados ao uso diário de uma cidade pequena.
Impacto Ambiental das Operações com IA
O crescimento das infraestruturas de IA também resulta em aumento significativo nas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Empresas como Microsoft e Google, que lideram o setor, enfrentam críticas por seu impacto ambiental. Desde 2020, as emissões da Microsoft aumentaram 30% devido à ampliação de seus data centers, enquanto as emissões da Google subiram quase 50% nos últimos cinco anos.
Além disso, grande parte da energia usada para manter esses centros de dados ainda vem de fontes não renováveis, como carvão e gás natural. Em Nebraska, por exemplo, uma usina a carvão continua ativa para fornecer energia a gigantes como Google e Meta, ilustrando a dependência do setor de combustíveis fósseis. Esse cenário é um exemplo claro de como a expansão da IA pode agravar problemas ambientais, se não for acompanhada por uma transição para energias renováveis.
IA como Aliada no Combate às Mudanças Climáticas
Apesar dos desafios, a IA também oferece soluções promissoras para mitigar o impacto ambiental. Empresas têm utilizado essa tecnologia para otimizar processos e reduzir o consumo energético. A Foxconn, por exemplo, conseguiu diminuir sua demanda energética em 30% usando sistemas de IA desenvolvidos pela Nvidia.
Além disso, a IA está sendo aplicada no monitoramento ambiental, ajudando a prever eventos climáticos extremos, rastrear desmatamento e proteger a biodiversidade. No setor de energia, algoritmos de IA têm otimizado a distribuição de energia renovável, contribuindo para a estabilidade das redes elétricas e a redução do desperdício.
Desafios e Limitações das IAs Verdes
Embora as melhorias de eficiência promovidas pela IA sejam relevantes, elas trazem consigo um efeito colateral conhecido como o “paradoxo de Jevons”. Aumentos de eficiência frequentemente resultam em maior demanda por recursos, o que pode levar a um consumo total ainda maior. Além disso, o setor enfrenta críticas pelo alto uso de água para resfriamento dos data centers – nos Estados Unidos, por exemplo, são consumidos cerca de 1,7 bilhão de litros de água por dia para essa finalidade.
Outro desafio é garantir que a energia usada pelos data centers seja proveniente de fontes limpas. Infelizmente, muitos centros ainda estão conectados a redes elétricas baseadas em combustíveis fósseis, minando parte dos benefícios ambientais que a IA poderia oferecer.
Caminhos para um Futuro Mais Sustentável
Para mitigar os impactos da IA, várias iniciativas estão em andamento. Uma das mais promissoras é o desenvolvimento de chips mais eficientes, que reduzem o consumo energético sem comprometer o desempenho. Além disso, empresas estão buscando construir data centers próximos a fontes de energia renovável, como hidrelétricas e parques solares, e algumas exploram até o uso de data centers submersos para aproveitar o resfriamento natural da água.
Testes com data-centers submersos. Fonte: Microsoft.
Outra estratégia é a otimização dos algoritmos de IA, para que exijam menos poder computacional e, consequentemente, menos energia. Regulamentações também são necessárias para garantir que as empresas divulguem dados sobre o consumo energético e as emissões, promovendo maior transparência e responsabilidade no setor.
O Papel da Ética e da Colaboração na Sustentabilidade da IA
Além dos desafios ambientais, o desenvolvimento da IA precisa considerar questões éticas e sociais. Os dados usados para treinar os modelos podem ser enviesados, não representando adequadamente diferentes grupos sociais, e é essencial que as empresas de tecnologia adotem práticas transparentes. Governos, empresas e organizações internacionais precisam colaborar para enfrentar os desafios impostos pela IA e garantir que seu desenvolvimento esteja alinhado com os objetivos globais de sustentabilidade.
Arquitetura Sustentável
São os Arranha-Céus Verdes Uma Péssima Ideia?
Nesta edição, discutimos o fenômeno dos arranha-céus verdes e florestas verticais, que prometem uma nova forma de integrar natureza e cidade. Essas estruturas são projetadas para acomodar vegetação em suas fachadas e telhados, criando uma paisagem urbana verde e mais conectada com o meio ambiente. Exemplos como o Bosco Verticale em Milão e a Forest City na China destacam o apelo visual e a ambição desses projetos. No entanto, uma análise mais crítica revela que a sustentabilidade prometida nem sempre se traduz em benefícios concretos.
A Promessa e a Realidade por Trás dos Edifícios Verdes
A integração de vegetação nas fachadas desses edifícios visa melhorar a qualidade do ar, reduzir a temperatura e criar espaços mais agradáveis para os moradores. No caso do Bosco Verticale, milhares de árvores e arbustos foram incluídos na estrutura, e a promessa é que essa vegetação absorva parte do CO₂ emitido na cidade. Já o projeto chinês da Forest City foi idealizado como uma resposta direta à poluição urbana, oferecendo uma solução arquitetônica verde para a crise do ar nas cidades. Contudo, estudos recentes mostram que essas expectativas podem ser superestimadas.
Bosco Verticale. Fonte: Zach Rowlandson em Unsplash
Embora a vegetação de fato ajude a reduzir a poluição nos níveis superiores dos edifícios, a ventilação no nível da rua diminui, aumentando a concentração de partículas prejudiciais para os pedestres. Isso ilustra que a eficácia desses projetos é limitada, especialmente sem um planejamento cuidadoso dos efeitos aerodinâmicos. Em termos de conforto térmico, os edifícios verdes podem reduzir a entrada de calor nas unidades e diminuir o uso de ar-condicionado. No entanto, esses benefícios são condicionados pelo clima local e pelo tipo de plantas usadas, que precisam ser muito resistentes em regiões quentes ou podem perder seus benefícios em estações mais frias.
Os Desafios e Limitações dos Arranha-Céus Verdes
Uma das principais críticas aos edifícios verdes está relacionada à pegada de carbono da construção. Esses projetos muitas vezes dependem de materiais de alto impacto ambiental, como o concreto armado, cuja produção libera grandes quantidades de CO₂. No Bosco Verticale, estima-se que apenas as sacadas tenham emitido cerca de 990 toneladas de CO₂ durante sua construção. Seriam necessárias mais de cinco décadas para que as plantas do edifício compensassem essa emissão, o que coloca em dúvida a eficácia real desses projetos em termos de sustentabilidade.
Effects of Vertical Forests on Air Quality in Step-up Street Canyons. Fonte: sciencedirect.com
Outro desafio significativo é a manutenção da vegetação em alturas elevadas, que exige mão de obra especializada e custos contínuos. Jardineiros e alpinistas industriais precisam garantir a saúde das plantas, o que não só eleva o custo de operação, mas também aumenta as emissões associadas à manutenção. Além disso, há preocupações de segurança, pois galhos ou plantas mal fixadas podem se desprender e causar acidentes. A durabilidade da vegetação também é questionada, já que plantas em condições artificiais frequentemente sofrem, exigindo substituição constante.
Esses edifícios são frequentemente acessíveis apenas para pessoas com alto poder aquisitivo, criando um problema de exclusão social. Enquanto moradores desses prédios desfrutam de áreas verdes privadas, o restante da população permanece sem acesso a espaços públicos de qualidade. Isso reforça desigualdades e limita o impacto positivo que essas soluções poderiam ter para toda a cidade.
Soluções Mais Eficazes para Cidades Sustentáveis
Uma abordagem mais eficiente para promover sustentabilidade nas cidades é investir em infraestrutura verde ao nível do solo. Plantar árvores em parques, praças e calçadas é uma forma mais prática e inclusiva de melhorar a qualidade do ar e o conforto térmico para toda a população. A criação de corredores verdes e a conversão de estacionamentos em áreas públicas também são medidas que trazem benefícios diretos e ampliam o acesso a espaços verdes.
Além disso, uma verdadeira transformação urbana passa pela redução da dependência de carros e pelo incentivo ao uso de transportes públicos e bicicletas. A sustentabilidade não pode se limitar ao design de edifícios; ela precisa incluir uma mudança no modo como as cidades são planejadas e operadas. A transição para fontes de energia renovável é outro passo essencial, já que edifícios verdes conectados a redes elétricas poluentes perdem grande parte dos seus benefícios ambientais.
Forêt Blanche. Fonte: Boeri Studio.
No campo da construção civil, o uso de materiais de menor impacto, como madeira engenheirada, pode ser uma solução eficaz. Projetos como a Forêt Blanche em Paris mostram que é possível combinar arquitetura inovadora e sustentabilidade, com estruturas de madeira que suportam centenas de árvores. Essas alternativas oferecem um caminho mais promissor do que simplesmente colocar plantas em fachadas de concreto.
Uma ótimo fim de semana!
Filipe Boni
UGREEN
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